segunda-feira, novembro 22, 2010

Pele de vidro

A técnica de "Pele de Vidro" é usada pelos arquitetos e engenheiros em grandes áreas ininterruptas, criando fachadas atraentes e consistentes. 


Com muito vidro sendo usado na obra, o ganho solar pode ser alto, a menos que todos os índices sejam controlados, o que é perfeitamente possível com a seleção correta dos vidros, pois é possível restringir a luz e o ganho solar acrescentando cor ou trabalhando com os índices de reflexão.


Seja no hemisfério norte, seja nas terras quentes do sul, o vidro só será um aliado da arquitetura sustentável se o projeto calcular o efeito do clima sobre o material.

Integrar ambientes, filtrar a luz natural e dar leveza à construção são qualidades conhecidas do vidro. Não por acaso, desde que surgiu (na Antiguidade), o material ganhou superfícies cada vez maiores na arquitetura. Hoje, na onda da construção sustentável, ele é usado no hemisfério norte como peça-chave em projetos de greenbuilding e no Brasil desponta como um produto cada vez mais comum nas planilhas dos profissionais preocupados com o meio ambiente. Segundo eles, já existem alguns tipos de vidro que garantem maior luminosidade e menor penetração de calor, reduzindo iluminação artificial e uso de aparelhos de ar condicionado, respectivamente. "Ele é hoje um dos principais elementos construtivos para a sustentabilidade, especialmente nos prédios de escritórios, pois combate o maior vilão de um edifício: o consumo de energia", afirma Roberto Aflalo, arquiteto responsável pelo edifício Rochaverá, da Tishman Speyer, que está sendo erguido em São Paulo para receber o LEED (Leadership in Energy and Environmental Design), selo americano de greenbuilding.

Berlim, Alemanha (2005)
(foto acima: Reinhard Gorner) A bolha que abriga esta biblioteca da Universidade Livre de Berlim é toda fechada com painéis opacos e translúcidos intercalados, numa alternância que promove a luminosidade natural mais confortável possível no interior do edifício. Algumas unidades abrem e ventilam a área interna durante 60% do ano. O controle de temperatura é feito por um sistema de serpentinas, responsável por uma economia de 35% no consumo de energia. Projeto do escritório inglês Foster + Partners. 

Dübendorf, Suíça (2006)
Inovação, eficiência energética, iluminação natural e uso da energia solar: cada um desses quatro itens já rendeu um prêmio ao novo centro de pesquisas aquáticas do instituto suíço Eawag. O projeto, assinado pelo escritório suíço Bob Gysin + Partner BGP, deu origem a um livro da Holcim Foundation, fundação que incentiva a construção sustentável, e é considerado um exemplo nessa área. Isso porque o edifício, construído apenas com materiais recicláveis, emprega energia solar e reúso de água, e quase não emite gás carbônico por ser praticamente auto-suficiente em energia (o sistema aproveita o calor dos computadores, das pessoas, das luzes internas, do sol e da terra). Nesse sentido, os brises de vidro que envolvem toda a fachada desempenham um papel fundamental. Controlados eletronicamente, orientam-se de acordo com a estação do ano: no inverno, permitem a entrada dos raios solares para aquecer o interior, no verão, inclinam-se para refleti-los.
Stuttgart, Alemanha (2002)
Na casa do arquiteto alemão Werner Sobek, a fachada envidraçada influencia o conforto térmico e o baixo consumo de energia. Os painéis de vidro triplo (33 mm de espessura) contribuem para a baixa transmissão de calor: há gás argônio entre as três lâminas e uma película plástica entre a lâmina central e a externa (o isolamento corresponde ao de uma camada de lã de rocha de 10 cm). Com isso, a temperatura interna fica estável, sem superaquecimento no verão nem resfriamento no inverno. O produto foi desenvolvido pelo fabricante alemão Glas Fischer. 'No frio, aquecemos as mãos nos painéis enquanto cristais de gelo se formam na face externa', descreve Ursula, mulher do arquiteto.


 São Paulo (2003)
Brises de 3 x 1 m, presos a uma estrutura metálica tubular, protegem a fachada de concreto do Centro de Cultura Judaica. Para facilitar a manutenção, o arquiteto Roberto Loeb optou por painéis fixos. O ângulo em relação à fachada foi determinado para amenizar a insolação máxima à qual o prédio está sujeito. 'Com isso, conseguimos atenuar a temperatura interna em até 3 oC', calcula o arquiteto Luis Capote, que participou do projeto. Isso não é suficiente para dispensar o ar-condicionado, mas contribui para que o equipamento não precise estar regulado na potência máxima. Os brises são compostos de duas lâminas de 10 e 8 mm, separadas por uma película fumê que filtra a luz natural.



Para tirar proveito do vidro, é preciso adequá-lo a cada projeto. No hemisfério norte, os arquitetos contam com simulações computadorizadas (ainda não disponíveis no Brasil) que consideram a quantidade, o tipo e o melhor posicionamento do material, de forma a otimizar o desempenho do material, reduzindo assim gastos com iluminação e com o uso de aparelhos de ar condicionado. "Mal utilizado, o vidro aumenta o consumo de energia e transmite dez vezes mais calor que uma parede de alvenaria", pondera o arquiteto italiano Carlo Magnoli, alertando para um problema típico dos países tropicais. Especialista em eficiência energética, o professor Roberto Lamberts, da Universidade Federal de Santa Catarina, concorda: "O efeito estufa que a carga térmica proveniente do vidro provoca no ambiente interno funciona muito bem no clima frio, mas no Brasil é problemático".

Nada que os recursos arquitetônicos de um bom projeto não resolvam. Sejam brises, coberturas longas, varandas fartas. "É preciso estudar caso a caso e saber dosar a proporção entre áreas opacas e transparentes", avisa Rosana Caram, professora da Escola de Engenharia de São Carlos. Para repensar o uso indiscriminado do vidro em fachadas, o Ministério de Minas e Energia elaborou um projeto que, atualmente, está em processo de consulta pública. Depois de uma avaliação do condicionamento do ar, da iluminação e da fachada, feita pelo Inmetro, prédios comerciais, públicos e de serviços poderão receber uma etiqueta que indica seu nível de eficiência energética. "No quesito fachada, calculamos a área envidraçada, o tipo de vidro e a proteção solar prevista", conta Roberto Lamberts, um dos autores da proposta.


São Paulo (2007)
Ainda em construção numa das principais vias de acesso de São Paulo, a Marginal Pinheiros, o Rochaverá, edifício empresarial da Tishman Speyer, reúne tecnologias ambientais que, juntas, devem gerar uma economia mensal de até 35% no consumo de energia elétrica. Em relação à fachada, as quatro torres do projeto de Roberto Aflalo contaram com uma consultoria especializada que partiu da recomendação da entidade certificadora – o Conselho de Greenbuilding dos Estados Unidos – para definir a área a ser coberta com vidros. 'O LEED recomenda que um edifício tenha até 50% de superfícies transparentes', conta Roberto. A sugestão, diz ele, ajuda a distribuir as vantagens do vidro de aumentar iluminação natural sem, com isso, intensificar o uso de aparelhos de ar condicionado. Feitos os cálculos, a medida ideal para o projeto ficou com um terço de cortina de vidro laminado de alto desempenho e o restante de granito, como se vê na ilustração ao lado.



fonte: http://casa.abril.com.br/arquitetura/livre/edicoes/0244/portas/mt_247215.shtml

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