terça-feira, novembro 15, 2011

Bar Volt, São Paulo




Com uso interno, luminosos ganham status estético
Com tijolos e tesouras originais aparentes, destaca-se neste bar a iluminação de neon, material retirado de luminosos da região pós-Lei Cidade Limpa. Espelhos e mobiliário de desenho consagrado completam o ambiente.

Boa parte dos luminosos que recobriam fachadas comerciais da região foram parar no bar Volt, na quadra inicial da rua Haddock Lobo, na região central de São Paulo. Sem função nem lugar, por causa da cruzada de despoluição urbana movida pela Lei Cidade Limpa, as estruturas de neon foram reaproveitadas para compor a estética de memória kitsch que era uma das condicionantes do projeto de interiores criado por Eduardo Chalabi - ao lado da pequena verba disponível e do tempo exíguo, com os quais o arquiteto está acostumado a lidar.

O ambiente aconchegante, em que a simplicidade e a espacialidade ampla se contrapõem aos ícones e letras de luz, busca atrair, entre outros, profissionais de áreas de criação, como arquitetos, artistas plásticos e designers que trabalham nas redondezas da avenida Paulista, tanto do lado dos Jardins como do centro.

A demolição das construções internas do imóvel revelou a forma linear e arejada de um galpão. O tratamento da estrutura do telhado, tornada aparente, trouxe o pé-direito elevado, bem-vindo ao programa, enquanto a recuperação dos tijolos à vista, nas divisas laterais, colaborou com certarusticidade. “Mas não queríamos um bar com cara de Vila Madalena”, diz o arquiteto. O comentário é sintomático: ao afastar o Volt do padrão exibido no boêmio bairro paulistano, Chalabi procura reforçar o vínculo com a região da Paulista, sobretudo com a proposição de uma linguagem que é um misto de tecnológica, alternativa e elegante.

O mobiliário do bar é quase todo composto por assentos consagrados, confortáveis poltronas criadas pelos designers norte-americanos Charles e Ray Eames, especificadas em tonalidades escuras e dimensões que são um convite à longa permanência. O layout racional acompanha a grande profundidade do lote e é amparado por pequenas variações de dimensões e tipos das mesas enfileiradas na longitudinal, de modo a prevalecer a unidade visual.
A meia altura, a fachada é semitransparente
Os elementos de neon suspensos sugerem um teto rebaixado
Interna e externamente, o bar é um volume envidraçado


O fundo do lote é incorporado ao bar por meio de uma cobertura retrátil. Ali, uma parede verde - recoberta com grande variedade de plantas e dotada de um sistema automatizado de irrigação - faz referência ao conforto do ambiente externo, aberto e tão raro em empreendimentos desse tipo.

Outro destaque do projeto é a habilidosa utilização do espelho, em princípio um material conflitante com as instalações de neon. Ele reveste a totalidade do volume funcional da cozinha e do bar, implantado na lateral direita do galpão, minimizando aparentemente a sua interferência nos interiores. Por sua vez, os luminosos menosprezados pela legislação urbana ganharam status nos interiores: sua restauração e exposição foram feitas sob a curadoria do artista plástico Kleber Matheus.

O projeto partiu da demolição das construções internas e da recuperação do telhado, para enfatizar a linguagem de galpão
A linguagem sóbria do mobiliário é um contraponto ao caráter pop das instalações luminosas
O pátio dos fundos foi incorporado aos interiores. No muro, grande variedade de plantas e sistema automatizado de irrigação
Recoberto por espelhos, o volume do bar não segmenta o espaço interno

fonte: Arcoweb Texto de Evelise Grunow
Publicada originalmente em PROJETODESIGN
Edição 353 Julho de 2009

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