terça-feira, novembro 01, 2011

Casa Paraty


Marcio Kogan - Casa Paraty - Rio de Janeiro


"Há uma lenda que diz que a região da cidade colonial de Paraty e de Angra dos Reis (entre São Paulo e Rio de Janeiro) tem 365 ilhas, uma para cada dia do ano. Duas caixas de betão aparente repousam encastradas na encosta de uma dessas ilhas; dois prismas modernos por entre as grandes pedras brutas do litoral brasileiro. Os volumes projectam-se para fora da montanha, quase na altura da praia, num balanço de 8 metros. A casa, numa engenhosidade estrutural, equilibra-se na topografia do terreno, constituindo um grande vão e um espaço habitável na natureza quase intocada. 

Nas pedras de Paraty, na densa mata da ilha, venenosas aranhas, encontram esse volume ortogonal e entram no relvado que reveste a laje. Movimentando rapidamente as patas, desbravam o terreno As aranhas continuam os seus percursos por dentro da residência onde se embrenham por uma colecção de importante móveis do século XX desenhados, entre outros, por George Nakashima, Luis Barragan, Lina Bo Bardi, Sérgio Rodrigues, Joaquim Tenreiro e José Zanine Caldas. As aranhas perdem-se nos estofos da poltrona. 

Os moradores chegam de barco: depois de pisar a areia, já protegidos pela laje, a entrada da casa é feita por uma ponte metálica sobre um espelho d'água forrado por cristais. A ponte conduz a uma escada que se conecta ao volume inferior. Este volume contém parte do programa da casa: uma sala de estar, a cozinha e a área de serviço. O espaço interno, contínuo, tem um grande vão de 27 metros e grandes janelas de vidro que permitem ver a vista, o mar.

A mesma escada da entrada continua para o volume superior que abriga os quartos. Na parte da frente da casa, painéis retráteis de ramos de eucalipto protegem os quartos do sol. Os espaços voltados para a montanha têm pequenos pátios internos com iluminação zenital e o uso do betão armado aparente confere uma textura surpreendente para todas as paredes. 

Todas as coberturas da casa são terraços: mirantes para os moradores, para as aranhas venenosas, jardim para as esculturas e para plantas medicinais e ervas comestíveis."


Área: 50.000 m² (terreno); 840 m² (construída) 
Data: 2008 - 2009 
Texto: Gabriel Kogan 
Fotografia: Nelson Kon

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