quinta-feira, fevereiro 07, 2013

A CASA COBOGÓ

 
Bonitas as palavras que lembram batuque de samba de raiz. Uma delas é cobogó. Esse nome brasileiro, que batiza esta casa paulistana, é um dos charmes do projeto do arquiteto Marcio Kogan . Tal elemento construtivo consiste num monobloco pré-moldado de cimento, argila, vidro, gesso ou cerâmica que reúne arte e funcionalidade. Ele presenteia a divisória com um desenho rendilhado, por onde fluem ar e luz, e contribui, assim, com respiro e alternância na luminosidade.

Nesta casa, o cobogó não só é personagem central do projeto, mas também é assinado pelo escultor austríaco Erwin Hauer, grão-mestre dos cobogós, autor de inúmeros módulos vazados e patenteados. No interior da residência, construída em 2011, há mais lições da arquitetura modernista, como na parede de tijolos de vidro do segundo piso e na parede forrada de madeira da sala de jantar, na qual o detalhe é o desenho contínuo dos veios.



A surpresa horizontal brota do ladrilho hidráulico no piso da sala dos fundos, que, de um lado, se abre para o jardim frontal e, do outro, para um pátio de jabuticabeiras. Mais um elemento primordial da arquitetura tropical, ressuscitado por Kogan em co-autoria com Carolina Castroviejo.

Trançando mais culturas, o toque zen. A casa se desenvolve em torno de outro elemento vital, a água, no caso, uma piscina em formato lacustre com uma grande pedra de jardim japonês e um laguinho com seixos e peixinhos. Outra influência transcontinental é a treliça retilínea das janelas e portas-janelas em painéis sanfonados. “Os painéis podem ser abertos inteiramente, assim como os caixilhos deslizantes de vidro, diluindo a transição entre os espaços internos e externos”, diz o arquiteto.



A treliça, tão presente na arquitetura brasileira até os anos 1970, e tão significativa no projeto de Kogan, é milenar. Seu complexo trançado de ripado de madeira vem da cultura árabe, mais precisamente do muxarabi, recurso arquitetônico que bloqueia a visão do ambiente interno, sem dispensar o ar e a luz, resguardando dos passantes as mulheres da casa.

Para finalizar sobre esta casa que encerra um pouco da história da civilização, a filosofia do belo projeto nas palavras do autor, o arquiteto Marcio Kogan: “Coroando a casa, o cobogó de Hauer é arte pensada como espaço arquitetônico. É o símbolo da casa, assim como a jabuticabeira do jardim. Dão ao espaço uma atmosfera reflexiva que invoca um breve silêncio contemplativo”. (CYNTHIA GARCIA)




fonte: * Matéria publicada em Casa Vogue # 319

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