terça-feira, maio 10, 2016

Idosos e a iluminação



A partir dos 60 anos, o olho humano começa a apresentar diferenças importantes que crescem de forma exponencial.

A fisiologia da visão revela que o olho humano começa um processo de redução da sua capacidade visual. Como se sabe o olho adulto é uma esfera de aproximadamente 2,5 cm de diâmetro que, como todo o ser vivo, vai envelhecendo ao longo de sua existência. Em particular antes dos 60 anos há uma necessidade imperiosa com o uso de óculos que visam corrigir a acuidade visual.

Posteriormente, os líquidos ou humores aquoso e vítreo, presentes no interior do globo ocular, bem como o cristalino e a córnea, começam a alterar os índices de refração e a sua coloração. Como conseqüência, o idoso dos 70 anos é, por assim dizer, uma pessoa que enxerga de forma amarelada, resultando daí uma necessidade de mais luz para ver semelhante ao jovem. Monet, o famoso pintor impressionista, interessantemente realizou a experiência de pintar a mesma cena de quadros, percebendo que o seu processo de percepção visual havia se alterado ao longo do tempo. Para o projetista de iluminação é muito importante verificar que estas alterações na longevidade devem se traduzir em projetos específicos de iluminação que atendam essas necessidades.

Fundamentalmente, os idosos precisam de mais luz, de maior iluminância que,conforme as recomendações da Sociedade de Engenharia de Iluminação Norte Americana (IESNA), emitidas a partir de 2000, se traduzem pelo dobro da necessidade usual. Um ambiente onde transitam idosos deve, no mínimo, apresentar 200 lux para as áreas de circulação, 400 lux para atividades de cunho geral e 600 lux para atividades específicas de cunho localizado.

Entretanto, não é isto que se vê normalmente. Basta visitar clínicas ou lares geriátricos para se ter uma idéia do quanto se está longe de cumprir esta exigência.

Em palestra para profissionais de clínicas, lares ou centros de convivência, ao ser colocada essa questão, houve o pronunciamento de que os idosos, quando tinham uma maior iluminância ambiental, tornavam-se mais “nervosos”. 

Ocorria que, nesses ambientes de maior iluminação, eles voltavam a enxergar de forma similar a da sua

juventude e, assim, começavam a desencadear um processo existencial mais motivado. É preciso sempre entender que o idoso é um adulto com vontade própria que, evidentemente, deve se sujeitar às regras das instituições, mas que nem por isso deve ser tratado como uma criança. Aliás, pensar que o idoso é uma criança é uma péssima concepção. O idoso é um indivíduo que tem características próprias da sua idade e que, por isso, devem ser corretamente interpretadas.



Após 60 anos,
os líquidos ou humores
aquoso e vítreo,
bem como o cristalino
e a córnea, começam
a alterar os índices
de refração e a sua
coloração.



Não basta, simplesmente, uma maior iluminação. É necessário que as fontes luminosas não sejam ofuscantes. O aumento da idade após os 60 anos começa a revelar que o ser humano é mais sensível às fontes de luz. Isto identifica dois tipos básicos de distribuição luminosa, perfeitamente caracterizados na literatura técnica como iluminação indireta ou semi-indireta. Parece que, em um mundo que busca a eficiência energética, estes dois tipos de iluminação são aqueles que representam o menor rendimento ou, mais precisamente, os menores fatores de iluminação.

Neste caso, é oportuno mencionar que um projeto de iluminação deve sempre iniciar com a tarefa visual. Esta tarefa é própria do ambiente e está integralmente inserida dentro do aspecto da percepção visual e do seu desempenho. Assim, um projeto de iluminação deve atender inicialmente dois condicionantes básicos como quantidade de luz (definida através de iluminância) e qualidade da luz (definida por luminância, temperatura e índice de reprodução de cor). 

A luminância é fornecida nos catálogos de fabricantes de luminárias e o seu uso é conhecido por projetistas de iluminação. Já a temperatura da cor pode ser considerada como da ordem de 3000K visto que idosos tendem a “ver uma vida mais amarela”. Os índices de reprodução de cor devem ser, por essa razão, no mínimo com um valor de 85. Ao empregar luminárias modernas, indiretas ou semi-indiretas, com alto rendimento, fatalmente o projetista de iluminação estará atendendo aos requisitos da eficácia energética. Esta eficácia estará, assim, intimamente ligada com a tarefa visual.

Não bastam apenas estes aspectos. É preciso considerar a emoção, traduzida por um clima a ser propiciado ao ambiente. Em lares geriátricos e centros de convivência é necessário integrar ailuminação com o mobiliário e a decoração, criar uma atmosfera residencial. Idealmente se deve propiciar ao idoso, quando afastado do lar, um ambiente que reflita aquilo que deixou para trás.

Por este motivo é interessante sempre verificar a constância da existência de fotografias que evoquem o passado e os adornos e enfeites colocados em cima dos mobiliários. Isto também deve ser propiciado quando os idosos, por vários razões, devem conviver com os filhos.

Na medida do possível, é sempre interessante que a qualidade de vida do idoso seja amparada por um espaço inteiramente seu. No mundo moderno isto não é fácil, mas é preciso considerar que o futuro reserva uma presença cada vez mais marcante de idosos no recesso dos lares e que a tecnologia deverá estar preparada para tal. É o mercado potencial que está à frente de todos e que deve ser descortinado e descoberto. Uma boa parte do desenvolvimento tecnológico reside na observação e os idosos estão aí para serem ouvidos e observados.


Boa parte do que está sendo escrito pode ser facilitado com o uso de recursos simples. Contraste e ofuscamentos devidos da luz do dia podem ser controlados mediante o uso de cortinas, cujos modelos variados se encontram no mercado.

Áreas de transição entre a iluminação externa e interna podem incluir uma área intermediária, adaptada à visão do idoso. Idosos lêem à noite e quando estão deitados, assim os abajures com focos de luz dirigidos, empregando lâmpadas fluorescentes compactas, mas sem serem ofuscantes é uma opção extremamente interessante para os projetistas de luminárias e o uso de lentes complementares é uma oportunidade de “design”de luminárias. O interruptor que automaticamente acende uma luz durante a noite quando o idoso necessita ir ao banheiro é um dispositivo simples cuja solução econômica certamente despertará o uso de um mercado potencial.

A iluminação poderá ainda receber auxílios importantes de outras soluções não dispendiosas e que exigem observação e imaginação, como, por exemplo, o uso de recipientes diferenciados por cores, ou então a colocação de líquidos claros em recipientes escuros e vice-versa; prato que tenha um círculo colorido escuro, delineando sua borda, identificador dos limites do alimento.

Bandejas que sempre apresentem os alimentos na mesma disposição, como o recipiente da entrada, o prato principal, o recipiente da sobremesa e o copo para líquidos. Isso compensará a dificuldade de visão do idoso e complementará o projeto da iluminação. Os livros podem apresentar letras com caracteres maiores que os usuais ou sistemas computadorizados cumprindo essa função. Enfim é um mercado próprio e nascente.

O principal objetivo do arquiteto, visto dentro de uma abordagem genérica da arquitetura, é a satisfação dos usuários nos espaços edificados, provendo o conforto, segurança e bem estar no uso funcional dos ambientes planejados.


No aspecto do conforto visual e lumínico, os idosos necessitam de maior nível de iluminação na área de execução de suas tarefas. Os contrastes de cores entre paredes, pisos e objetos devem ser otimizados para auxiliar na identificação dos mesmos. Por serem mais sensíveis ao ofuscamento e requerem mais tempo de adaptação as mudanças repentinas de luminosidade, deve-se ter o cuidado de evitar estes desconfortos.




Não basta, simplesmente,uma maior iluminaço. É necessário que as fontes não sejam ofuscantes.




O uso de lâmpadas fluorescentes compactas, sem ofuscamento, são uma opção extremamente interessante
para os projetistas de luminárias.

Fonte:  http://www.lumearquitetura.com.br/pdf/ed14/ed_14_Ponto.pdf


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