terça-feira, outubro 14, 2014

Cubo minimalista em São Paulo



Moradores prezam pelo vazio para destacar arte


Pontuado por sofás Togo, design Michel Ducaroy, pela mesa lateral One Shape, de Marie Christine Dorner, ambos para a Ligne Roset, e pela mesa de centro da Atrium, o living exibe um múltiplo de Marcelo Cidade na parede, além de Negra, de Carmela Gross (ao fundo, à esq.)

Não, não se trata de uma “verdadeira galeria de arte”. É uma casa, mas destas muito especiais. Projeto limpo, limpíssimo, de Isay Weinfeld, na nobre região dos Jardins, em São Paulo. Diferente da maioria por dentro, no entanto: minimalista na arquitetura porque sim, feita sob medida para atender a anseios concretos de um casal de apaixonados pela arte desse mesmo estilo. Hoje, ali, predominante, por meio das inúmeras obras exibidas, que privilegiamos expoentes do minimalismo norte-americano dos anos 1950 a 1980 especialmente, ao lado de jovens artistas brasileiros e contemporâneos estrangeiros. O cubo, literalmente branco, e todo com piso de cimento, ganha paredes e volumes específicos para receber determinados trabalhos, e até uma sala escura que abriga um vídeo permanente. O que não faz da casa um museu. Ela tem o perfume de uma família constituída de pai, mãe e filhas. A residência vive como outra qualquer, mas recheada da (excelente) arte que respira.

“Receber a coleção era parte importante do programa; mais ainda, da vida desses clientes”, afirma Isay. Afinal, o casal que encomendou ao arquiteto este projeto, há 13 anos, se conheceu por causa da arte, uma paixão em comum – ele teve uma galeria no final da década de 1990 e já era grande colecionador de autores brasileiros (Oiticica, Lygia Clark, Mira Schendel...) e ela trabalhava como advogada no Museu de Arte Moderna de São Paulo. Casados desde 2000, eles evoluem como seu acervo, um sonho sempre em mutação. “Assim como o gosto, que também vai mudando”, segundo a proprietária, que considera um privilégio poder conviver assim com as obras. De contemporâneos nacionais, ainda que sem abandoná-los por completo, a coleção migrou mais recentemente para esse apreço pelo minimalismo. E uma corrente imaginária de integração entre as peças percorre, como uma ocupação, os três andares e poucos ambientes (basicamente três salas, sendo a de TV integrada à de almoço, e três quartos), sempre amplos, da construção de 900 m².



Sala escura especialmente projetada por Isay Weinfeld para receber o vídeo Basin of Tears, de Bill Viola, e cadeiras de Marcel Breuer

Junto ao desejo de viver em meio à arte, há na família ainda o gosto pela decoração desta residência de pé-direito alto e iluminação zenital, o que a torna muito agradável por estar permanente e naturalmente iluminada. Mas “a arte vem antes, e os móveis vêm depois”, reafirma a proprietária, que enveredou profissionalmente em 2013, junto com o marido, pelo ramo do décor. E, da mesma forma, seus próprios móveis de bom design do século passado vêm evoluindo e sendo mesclados com peças por eles importadas da França, e comercializadas no Brasil, já que são os representantes da tradicional Ligne Roset, hoje com150 anos e, coincidentemente, 150 designers que desenvolvem desenho de mobiliário e objetos para a marca. A decoração também minimalista, muito ao sabor da conhecida linha francesa, completa e encerra o mix atual da morada, que não abandona um quê brasileiro, como na cama assinada pelo português Joaquim Tenreiro, que, aqui, se radicou e fez casas inteiras como aquela em que os moradores adquiriram o exemplar único.

De algumas peças – tanto de arte quanto de mobiliário – que já não existem mais na morada, porque passadas adiante, eles dizem ter saudades. Mas nada que uma reserva técnica com itens preciosos não possa suprir em caso de eventual carência de uma estética sem a qual não vivem.


Vista externa realça os traços limpos da arquitetura de Isay Weinfeld: a casa toda branca tem, no térreo, à esq., o living voltado para a piscina, assim como a sala de jantar, à dir. - paisagismo de Isabel Duprat



No canto do living figura uma edição especial da chaise Togo da Ligne Roset, uma releitura do estilista Paul Smith em homenagem aos 40 anos da peça; ao lado, sobre a mesa lateral One Shape, da mesma marca, objeto de Elsa Peretti e obra de Iran do Espírito Santo, de vidro espelhado, no piso



Centrada em torno de uma estante de madeira branca desenhada pelo escritório de Isay, a sala de TV leva uma poltrona da linha Fifty, do Dögg&Arnved Design Studio, um sofá Ploum, design dos irmãos Bouroullec e uma reedição da escrivaninha Tanis (anos 1950), de Pierre Paulin, tudo da Ligne Roset; o tapete é da By Kamy



A mesa art déco define a sala de almoço, rodeada por cadeiras Elsa, criação de François Bauchet para a Ligne Roset; o ambiente ainda possui lustre e cerâmicas comprados em antiquários e, ao fundo, cinco monotipias de Mira Schendel



O lavabo todo espelhado tem bancada de aço inoxidável, sobre a qual apoiam-se esculturas de vidro de Kiki Smith e o vaso Les Oiseaux, desenhado por Pascal Mourgue para a Ligne Roset



Fios de lã esticados formam uma instalação assinada por Fred Sandback



Na sala de TV figura o sofá Ploum, dos irmãos Bouroullec para a Ligne Roset, sobre tapete da By Kamy – ao fundo, a sala de almoço leva cadeiras Elsa, design François Bauchet para a Ligne Roset, e monotipias de Mira Schendel na parede



Gramado com esculturas de Sol LeWitt



Vista ampla do living revela vasos de Noé Duchaufour Lawrence (no centro) e Itamar Burstein (ao fundo) para a Ligne Roset, além de outra obra, de vidro, de Marcelo Cidade



A mesa da sala de jantar, com obra de Matthew Barney sobre o tampo, foi desenhada pela dona da casa e recebe cadeiras Panton e luminárias da FAS sobre ela – nas paredes, arte de Nicolás Robbio (à dir.) e módulos Clouds (ao fundo), dos irmãos Bouroullec para a Ligne Roset


Ao fim da escadaria de mármore, escultura-instalação de Dan Flavin


Vista do “penetrável” de Fred Sandback e, sobre o piso (à dir.), obra de Carl Andre – ao fundo, o mezanino



O quarto do casal tem cama de Joaquim Tenreiro



Mesa de Eero Saarinen, cadeiras Rocher, de Hertel & Klarhoefer para a Ligne Roset, e, ao fundo, Blocos de Morar, obra de Regina Silveira

Fonte: Casa Vogue

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