quinta-feira, janeiro 06, 2011

Luzes e cores em harmonia



A noite na maior cidade do Brasil está mais colorida. Luzes, efeitos e cores proporcionam ao novo marco arquitetônico da cidade de São Paulo (SP) a valorização de seus desenhos e formas.

O projeto de iluminação da ponte Octávio Frias de Oliveira, construída sobre a Marginal do Rio Pinheiros, que ligará os bairros do Brooklin e Real Parque, foi concebido dentro das seguintes premissas: originalidade, simplicidade e eficiência energética.

Inaugurada no último dia 10 de maio, a ponte possui uma torre de 138m de altura - o equivalente a um edifício de 46 andares - em formato de X, que sustenta três vias de acesso que partem de diferentes avenidas. Sua sustentação, entretanto, tem o auxílio de 144 estais, espécie de cabos de aço revestidos de polietileno na cor amarela. O investimento para a construção do complexo viário, cujas obras iniciaram em 2005, foi de aproximadamente R$260 milhões.

De longe, os cabos amarelos chamam a atenção de motoristas e passageiros. Dependendo do ângulo em que se observa a construção, as hastes de sustentação ganham formas distintas. Além da forma inovadora, sua altura é outro ponto de destaque do projeto de engenharia. São apenas 25m a menos do que o Edifício Itália, o segundo mais alto do Brasil.

O projeto luminotécnico, assinado pelo lighting designer Plínio Godoy e pelo engenheiro Paulo Candura do escritório Luz Urbana, foi dividido entre as iluminações viária e monumental para a torre. O projeto ainda conta com a parceria do arquiteto responsável pela obra, João Valente Filho, e foi contratado pela construtora OAS, vencedora da licitação pública para construção da ponte.

Cada espaço recebeu equipamentos, cores e especificações adequados, partindo da idéia de que durante o dia a iluminação permita a visualização da ponte para quem circula entre suas três vias de acesso, enquanto à noite proporcione uma visão cenográfica para os que passam pela Marginal Pinheiros.

O intuito dos arquitetos era valorizar as potencialidades da ponte, contribuindo para a leitura da obra. “Nossa missão foi valorizar a arquitetura, jamais transformá-la em um pano de fundo para um show pirotécnico”, explica Godoy.

Dessa forma, com a luz diurna, são destacados os estais amarelos contra o cinza do asfalto. Já à noite a situação se inverte e o projeto luminotécnico valoriza a torre com cores no detalhamento das superfícies internas ao “X” estrutural.

De acordo com a normalização urbana, a ponte é considerada uma via secundária, exigindo iluminação urbana condizente com o fluxo e a velocidade do tráfego de veículos. Na iluminação viária foram colocados postes de 6m de altura com luminárias Milewide, as quais utilizam o sistema de lâmpadas Cosmopolis da Philips nas pistas de circulação e nas alças de acesso à ponte. Segundo a empresa são lâmpadas de alta eficiência, custo operacional baixo e vida média elevada, que reproduzem uma luz branca, com índice de reprodução de cores muito superior ao das lâmpadas de vapor de sódio.

De acordo com Paulo Candura, estudos feitos no exterior constatam que a lâmpada de sódio adotada hoje nas cidades tem alta eficiência, porém seu aspecto alaranjado não é o preferido pelo olho humano. Essas pesquisas concluíram que, quando a luz é de um branco amarelado, o olho humano ganha maior nitidez na percepção de contrates, movimentos e limites.

Dessa forma, segundo Candura, a cor da luz que as lâmpadas de sódio proporcionam não tem o efeito ideal para o olho humano. Já essas novas lâmpadas produzem uma luz mais branca, ideal para a percepção do olho humano no período da noite. Esse efeito é chamado de “Lumens Efetivos”, ou seja, produz luz que o olho humano percebe melhor. “As pessoas passam pela ponte e não entendem porque estão enxergando melhor”, conta o engenheiro.

O sistema permite ainda direcionar a luz apenas para a pista, evitando o “vazamento” de luminosidade para a torre ou os estais, o que não prejudica o efeito decorativo da iluminação na torre.

Além da melhoria em relação à cor reproduzida no ambiente urbano, o novo sistema possui uma eficiência energética considerável. As lâmpadas utilizadas no projeto são de 140W cada uma. As lâmpadas de vapor de sódio, utilizadas normalmente para iluminação em projetos como esse, consumiriam cerca de 250W cada uma.

Segundo a Philips, o sistema proporciona uma redução de 10% no consumo de energia em comparação aos projetos que utilizam vapor de sódio e 150% em comparação aos que utilizam mercúrio.

Candura explica que a nova tecnologia utiliza reator eletrônico e não o magnético, usual em São Paulo. A vantagem, segundo ele, é que esses reatores garantem que a vida útil dos equipamentos seja maior.

Já na face externa da ponte, que representa a torre principal e os estais amarelos, há uma luz branca suave produzida por meio de 20 projetores Arena Vision de 1.000W, com temperatura de cor próxima dos 5.000K, os quais foram posicionados a fim de criar nas partes internas da torre duas superfícies não iluminadas, que seriam palco das cores produzidas pelos Leds.

Esses projetores fazem parte de uma solução desenvolvida para iluminar as principais arenas esportivas do mundo. Ela já foi utilizada na iluminação dos estádios nas três últimas Copas do Mundo e nos Jogos Olímpicos de 2000 e 2004.

Godoy explica que a preocupação com a não-mistura dos resultados levou o estudo a um nível muito preciso de posicionamento e ao estudo da luminância da torre versus luminância dos estais, com base em cinco pontos de referência distintos.

Os projetistas realizaram diversos testes e concluíram que deveriam ser utilizados elementos de maior controle da luz, chamados hoods, que consistem em colimadores metálicos, limitando assim a emissão de luz para os locais definidos e minimizando o ofuscamento produzido pela visualização direta das lâmpadas. O resultado foi uma torre uniforme em suas faces externas e a mínima visualização das fontes de luz.

Para fechar o projeto, as luzes e cores aparecem para dar destaque às formas. A parte interna da torre tem uma iluminação colorida, que utiliza 142 projetores equipados com 36 Leds que possibilitam a troca dinâmica de cores ou a seleção de apenas uma tonalidade. Projetores de foco fechado foram utilizados na altura mais elevada da torre, enquanto os de foco aberto estão no túnel sob ela. As luzes que iluminam a ponte ganham, portanto, cores diferenciadas em datas comemorativas ou eventos especiais.

“A iluminação colorida, produzida pelos projetores Color Kinetics com tecnologia DMX, foi balanceada tanto na quantidade quanto no posicionamento e ângulos de ataque”, explica Godoy, que ressalta que as cores devem sempre ser utilizadas com sensatez e cuidado.

Segundo Candura, o consumo de cada um dos 140 projetores é de 50W, o equivalente a menos que uma lâmpada incandescente convencional. Foram empregados 36 Leds em cada projetor. Dessa forma, o consumo energético dos efeitos proporcionados pelos Leds, que dão cor à ponte, corresponde ao equivalente ao consumo energético de um chuveiro elétrico ou a 10% da energia de um projetor convencional.

A escolha dos Leds foi motivada pela questão da eficiência energética, pelo sistema adotado RGB, que permite a variação de cores, e pela possibilidade da utilização da iluminação dinâmica (mudança de cores) a partir de equipamentos simples e de fácil programação.

Os projetistas contam, no entanto, que a torre apresentava dois aspectos críticos. O primeiro era a questão de não ser uma superfície plana, e sim composta por vários planos com ângulos diferentes em relação aos níveis e superfícies horizontais disponíveis para instalação. O segundo aspecto crítico foi o revestimento da torre com um verniz brilhante, o que prejudicava muito a percepção desde as pistas das marginais.

Os profissionais realizaram por fim cálculos e testes de campo e chegaram ao resultado uniforme, em que cada nível utilizou uma quantidade diferente de projetores com posicionamentos e focalizações diferentes.

“Houve uma solicitação inicial de que fossem aplicadas cores em toda a estrutura da ponte. Entendemos que essa orientação se chocaria com a cultura dos paulistanos, que não aceitam bem o uso de cores na paisagem urbana. Procurou-se fazer a iluminação de maneira não agressiva, conferindo ao conjunto um detalhe elegante na valorização de sua arquitetura”, conclui Candura.







:: ficha técnica
Nome do Projeto :: Ponte Octávio Frias de Oliveira
Local :: Rio Pinheiros/Av. Jornalista Roberto Marinho, São Paulo (SP)
Arquitetura :: João Valente Filho
Projeto luminotécnico :: Plínio Godoy e Paulo Candura do escritório Luz Urbana
Construtora :: OAS/Mendes Jr.
Instalação elétrica :: Luz Urbana/Alphacom

:: fornecedores
Luminárias :: Milewide (Philips)
Lâmpadas :: Cosmópolis - 140W (Philips)
Reatores :: Eletrônicos sistema Cosmópolis (Philips); Leds: Color Kinetics (Philips); Projetores: Arena Vision (Philips) e Projetores: Tempo (Philips)
Outros equipamentos :: Postes e cruzetas para projetores : Newlux; Chaves magnéticas e relé fotoelétrico: Stieletrônica; Proteções de comando e cabos com conector: Newlux; Cabos: Cordeiro; Conectores, hastes de aterramento: Intelli; Chumbadores: J. Gonçalves e Transformadores: Indústria de Transformadores Birigui.

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