quinta-feira, março 17, 2011

Iluminação de Monumentos e fachadas


Case: Fachadas que valorizam - Iluminação "micro" em escala "macro"
Dicas de iluminação para destacar um edifício no cenário urbano
Por: Claúdia Cavallo

O cenário urbano, prédios e monumentos podem passar desapercebidos ou tornarem-se referência de localização ou ponto turístico. A iluminação de fachadas pode agregar grande valor a edifícios públicos e privados, atraindo olhares, despertando curiosidade e valorizando empreendimentos.
A seguir, Neide Senzi, arquiteta e especialista em projetos de iluminação, apresenta alguns de seus recentes projetos de iluminação de fachadas, do tradicional ao moderno, com dicas sobre tipos de lâmpadas, temperatura de cor, uso de cores, entre outros recursos.


Estilo arquitetônico e tridimensão

A iluminação de fachadas deve ser considerada como um contraponto à iluminação natural. Enquanto a luz natural caracteriza-se pela uniformidade, indefinição de volumes ou sombreamento indesejável, a luz artificial tem o papel de exaltar a volumetria de um prédio, pelo contraste (relação luz x sombra). Em seus trabalhos, Neide Senzi segue a "escola francesa", que determina a valorização e interpretação dos principais pontos da arquitetura através da iluminação: "Embora fachadas sejam superfícies grandes, sua iluminação deve ser pensada de forma 'micro' em vez de 'macro'. É preciso respeitar os detalhes, ornatos e volumes; trabalhar pontualmente para que, no conjunto, se crie tridimensão" - conceitua.

O primeiro item a ser analisado no desenvolvimento do projeto luminotécnico de uma fachada, portanto, é o estilo arquitetônico do prédio. De que maneira sua volumetria se destaca? Verticalmente, através de colunas? Horizontalmente? Há varandas, sacadas ou elementos que dêem profundidade?...

Em construções mais recentes há chance de conversa direta com o arquiteto, troca de idéias e informações. Neide Senzi adianta que, "de modo geral, na arquitetura moderna não há o uso de grandes volumetrias horizontais. Não há recuos enormes, balanços consideráveis e alas proeminentes. Os prédios modernos são como cubos sólido. Sua tridimensionalidade se dá através dos ornatos arquitetônicos. Por isso, antes de qualquer coisa, convém observar onde se deram estes ornatos. Na base? No coroamento? Na alvenaria?..."

Downlight ou uplight?

Neide Senzi só evidencia a verticalidade de um prédio através de uplights. Nunca, downlights. Ela defende: "O ser humano olha um edifício de baixo para cima e a luz tem que respeitar a perspectiva, o ponto de fuga."

Vapor de sódio ou vapor metálico?

O tipo de lâmpada mais indicado para iluminação de fachadas é a de alta eficiência, de longa vida útil, que exija pouca manutenção. Vapor de sódio ou vapor metálico? Neste caso, depende do revestimento. Uma construção antiga não, necessariamente, deve ser iluminada por lâmpadas de vapor de sódio. Da mesma forma, nem todo prédio moderno precisa receber a "luz branca" das lâmpadas de vapor metálico. O prédio da sede da Votorantim, de meados de 1930 e arquitetura neoclássica, mesmo sendo antigo, sua fachada é pintada de uma cor quase branca. Por isso, é iluminada por lâmpadas de vapor metálico. Já no Museu do Ipiranga, a opção foi vapor de sódio, também em função da cor do revestimento.




Museu do Ipiranga - SP
Opção por vapor de sódio em função da cor do revestimento.

Mais de uma temperatura de cor
O uso de fontes com a mesma temperatura de cor na iluminação de uma fachada inteira pode ficar monótona, gerar pouco interesse visual. Por outro lado, não se deve, jamais, utilizar temperaturas de cor diferentes num mesmo elemento arquitetônico. Se um prédio é todo definido através de pilares simétricos e idênticos e iluminados, por exemplo, com lâmpadas de diferentes temperatura de cor, o resultado pode comprometer a unidade. O edifício Angélica tem base em granito bege, para o qual a lâmpada de vapor de sódio se aplicou muito bem. Na parte superior, onde o revestimento é pintura em tom mais claro e num nível recuado, o uso de vapor metálico foi mais adequado, até para acentuar a volumetria.

Ofuscamento
Em iluminação de fachadas, ofuscamento deve ser evitado sempre... que necessário. Não é preciso investir em equipamentos quando as pessoas não terão acesso visual à fonte de luz. Por outro lado, é preciso estar atendo à parte aérea. Edifícios localizados em áreas urbanas - principalmente prédios históricos - são, normalmente, cercados por outros edifícios mais altos. Como as pessoas nestes prédios ao redor irão visualizar o que está abaixo? Ofuscamento, em iluminação de fachada, deve considerar quem passa pela rua, quem está dentro do prédio iluminado e quem está em prédios vizinhos.

Uso de cor
Na opinião de Neide Senzi, o uso de cor em iluminação de fachadas só se justifica como apelo comercial, para destacar um hotel, um prédio empresarial, diferenciar um empreendimento. "Estudos comprovam que o ser humano é atraído pela cor e, como em iluminação este recurso ainda é recente, um prédio que recebe iluminação colorida vira um referencial, um landmark na cidade. Em prédios históricos, entretanto, no Brasil, esta solução tem sido rejeitada e considerada como um desrespeito ao patrimônio."

Edifício San Paolo
Sua arquitetura é neoclássica e sua característica principal são as molduras horizontais contornando o edifício. Não há ênfase nos pilares. A iluminação respeita e valoriza a horizontalidade do prédio, pois concentra-se na base e no coroamento.


Edifício San Paolo - SP
A iluminação respeita e valoriza a horizontalidade do prédio, pois concentra-se na base e no coroamento.

Votorantim
Caracteriza-se pela verticalidade, por sua alvenaria bem detalhada e por ser entremeado com grandes janelas e caixilhos. "Não adianta iluminar as janelas e vidros. Pelo contrário, convém escondê-los. Iluminá-los significaria jogar luz para dentro do edifício, causando incômodo a quem trabalha ali. A definição do prédio da Votorantim está na simetria dos pilares e na marcação de verticalidade é nela que se deve focar. Há grandes frontões, arcos, nichos, molduras, brasões... Estes elementos é que devem ser valorizados" - explica Neide.

Edifício Angélica
O arquiteto quis dar a idéia de um prédio "infindável", sobre uma base sólida. Não há coroamento. A iluminação valoriza a base e, depois, a verticalidade da construção. A base recebeu atenção especial também. "A base de um prédio é sempre importante, porque é o que dá sustentação. Se iluminamos demais a parte superior e de menos a base, o edifício parece estar flutuando" - justifica Neide. Para evitar vazamento de luz para dentro dos escritórios, foram usados projetores de facho bem concentrado, fixados nas bases dos pilares.

Sheraton
Optou-se por uma iluminação impactante, que destacasse o hotel na cidade de Curitiba. O principal elemento arquitetônico eram "anéis" metálicos centrais, que foram destacados pelo uso de cor - favorecido pelo fato de a estrutura metálica onde incide a luz ser branca. Foi utilizado um equipamento com recurso de mudança de cor (color changer), possibilitando a renovação visual da fachada em diferentes ocasiões ou épocas do ano. Projetores com lâmpada de vapor metálico coroam a parte superior do edifício, como complemento.


Sheraton - Curitiba
O principal elemento arquitetônico eram "anéis" metálicos centrais, que foram destacados pelo uso de cor.

Teatro Imprensa
O antigo edifício, localizado num ponto central de São Paulo, foi reformado, adquirindo um aspecto moderno, com revestimento em Alucobond. O arquiteto desejava uma iluminação que valorizasse a fachada, marcando a localização do Teatro Imprensa na cidade. Acima do teatro - que fica no térreo - há andares de escritórios. A iluminação respeitou estas duas diferentes funções do edifício, para que a luz da fachada não interferisse no uso dos escritórios no período noturno. Na parte inferior, optou-se por um apelo cênico, como uma extensão do teatro. Foram instaladas mini-luminárias com lâmpadas bolinha de 25W sob a marquise, como as usadas nos tradicionais teatros da Broadway. A parte superior, onde funcionam os escritórios, é formada por alvenaria e caixilhos. Adotou-se o recurso de uplight, com projetores de fachos ultraconcentrados (8 a 10 graus), posicionados apenas na alvenaria, para evitar vazamento de luz para o interior do prédio. "Coloquei uma 'bateria' de projetores de facho aberto para criar a base da parte de escritórios do edifício e, depois, fui 'pincelando' a verticalidade com luminárias de facho concentrado" - detalha Neide. Foi usada lâmpada vapor metálico colorida azul de 400W para manter o conceito "cênico" que destaca o Teatro no cenário urbano.


Teatro Imprensa - SP
Na parte inferior, optou-se por um apelo cênico.Na parte superior, adotou-se o recurso de uplight.

Torre da Telet - Claro Digital

A companhia canadense ganhou a concorrência de telefonia celular em Porto Alegre e estava criando um centro administrativo novo, de arquitetura arrojada - uma torre de 100m de altura, com um observatório na parte superior. A construção localiza-se no alto de uma colina e pode ser visualizada de quase toda a cidade. Neide Senzi propôs um projeto que tivesse a torre em si como principal atrativo visual. Aproveitá-la como um grande recurso de marketing para a empresa, através do uso de equipamentos que projetassem iluminação colorida. As cores poderiam ser alternadas de forma a criar expectativa na paisagem urbana. Em alguns momentos essa cor seria a mesma do logotipo da empresa, criando uma associação de marca. Havia uma série de obstáculos a serem contornados. 

O primeiro era a escala: que tipo de equipamento garantiria fachos com intensidade para chegar a 100m de altura? Onde e como posicionar as fontes de luz? A superfície a ser iluminada era cilíndrica, em concreto (sem revestimento) - o que significava baixíssimo índice de reflexão - e havia, ainda, o observatório ao longo do percurso. Não era permitido o uso de transformadores eletromagnéticos nem qualquer outro equipamento que pudesse causar interferência no sistema de telefonia. O projeto luminotécnico foi desenvolvido, tendo o uso de projetores color changer, através de filtros giratórios dicróicos, com recurso de infinitas e variadas cores, como elemento principal. Para cobrir os 100m de altura, os projetores foram instalados em dois níveis: um sistema na laje do edifício administrativo focalizando o topo da torre e outro, na altura mediana do fuste da torre, que iluminariam todo o corpo. Acima do observatório foram instalados, ainda, projetores com lâmpadas de vapor metálico, fazendo o coroamento. A instalação dos projetores na laje da base da torre seria relativamente simples. 

Os que deveriam iluminar o corpo principal, entretanto, representavam um desafio e tanto. A solução seria aproveitar "braços" em balanço - tirantes - que servem para subida e descida de antenas para manutenção. Foi preciso trabalhar em conjunto com o departamento de Engenharia para se definir exatamente em que parte dos "braços" os projetores poderiam ficar, de forma que não interferissem no mecanismo de manutenção. A torre, de concreto, foi pintada de branco, para que se pudesse explorar ao máximo a gama de cores oferecida pelos projetores.

Os sistemas são todos interligados e controlados numa mesa central de comando, com operações pré-programadas e acionadas juntamente com a iluminação geral da torre, pelo chefe de manutenção. "Foi um trabalho de interação de equipe, com a participação dos arquitetos do escritório GAD Design, autores do projeto de arquitetura, engenheiros e técnicos da Claro Digital, além do próprio presidente da empresa no Brasil, que apostou na idéia. Fizemos vários estudos também com os técnicos do fabricante americano dos projetores especiais tipo color changer, com base em trabalhos em grande escala já realizados com o mesmo tipo de equipamento. O custo de investimento foi alto - 120 mil dólares só nestes projetores. Tudo teve que ser previamente pensado em detalhes - pois não se poderia relocar o equipamento depois de tudo instalado -, mas o resultado foi compensatório. A torre tornou-se um landmark na cidade. Existem ônibus de turistas que vão ao local para visitar e tirar fotos e a torre passou a interagir com os moradores, que sempre procuram saber de que cor ela será iluminada naquela noite... "Este caso exemplifica como a iluminação pode se transformar em ferramenta de marketing e de grande apelo visual para uma empresa, mesmo na grande escala de um contexto urbano." - comemora Neide Senzi.


 
Torre da Telet - Claro Digital Porto Alegre
Aproveitamento da própria torre como recurso de marketing, com uso de projetores color changer. 
 
:: Fonte: Revista Lume Arquitetura - edição número 3 

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