segunda-feira, agosto 29, 2011

Theatro Municipal de São Paulo

Teatro Municipal de São Paulo ganhou recursos tecnológicos para receber espetáculos que abusam da tecnologia
Para quem conhecia o teatro, a sensação é de que os espaços estão amplos, luminosos. "A tinta antiga tinha um tom de creme que escurece com o tempo. Os detalhes dourados estavam desgastados, apareciam menos", diz Lilian Jaha, arquiteta do corpo técnico do teatro.

Já no palco, os equipamentos são austríacos. Os mesmos instalados na Casa de Ópera de Copenhague, na Dinamarca. Entre outras possibilidades, o sistema permitirá que os cenários sejam trocados em questão de segundos, acionados por um botão.

"O Municipal deixa para trás um modo ultrapassado de fazer espetáculo, entrando em um universo contemporâneo", diz o arquiteto José Augusto Nepomuceno, responsável pelas obras do palco.
As chamadas varas, que sustentam os cenários, ainda funcionavam manualmente. Técnicos do teatro realizavam a movimentação por meio de cordas, com pesos de 20 quilos, que se somavam até levantar a cenografia. Isso limitava o Municipal a comportar apresentações cujos cenários não pesassem mais do que 150 quilos.

Agora, essas estruturas poderão chegar aos 950 quilos. A plateia pode não perceber de imediato a importância da novidade. Mas a mudança deve atrair companhias internacionais, que costumam ter enormes cenários e coreografias que dependem da interação com a cenografia.  

Foto: Paulo Vitale
 
O Theatro Municipal de São Paulo em imagem noturna: edifício chega perto dos 100 anos novo em folha
Após três anos fechado para reformas, o Theatro Municipal de São Paulo finalmente vai reabrir as portas. Com a fachada revitalizada, um palco mais moderno, vitrais e pinturas recompostos e poltronas restauradas (agora com assentos e encontos vermelhos, não mais verdes), o edifício quase centenário está novo em folha.
A extensão da reforma já pode ser sentida logo ao entrar no teatro. O hall de entrada, com sua majestosa escadaria de mármore e esculturas em bronze, parece mais luminoso. "A tinta antiga tinha um tom que escurecia com o tempo", explica a arquiteta Lilian Jaha, do corpo técnico do Municipal. "Os detalhes dourados também estavam desgastados".



Foto: Paulo Vitale 
Hall de entrada: muito mármore e mais luz
Nas paredes do hall, agora há pinturas que imitam veios de mármore, muito próximas do que havia em 1911. "Encontramos essa imitação de mármore (a técnica chama-se escaiola) por baixo da tinta usada na reforma feita nos anos 1980", diz a coordenadora do restauro, Rafaela Calil Bernardes.

Como a pintura original estava muito danificada pela tinta usada naquela reforma, optou-se por pintar novamente as paredes. "No entanto, usamos uma técnica que permite a retirada dessas pinturas sem danificar o que está por baixo. Quem sabe no futuro, em outra reforma, o revestimento original possa ser recuperado", afirma Rafaela.

Do lado de fora, os vitrais receberam uma proteção de vidro, com filtros para raios UVA e UVB. "Esse tipo de luz danifica as pinturas do lado de dentro do Municipal", explica. As esculturas em bronze (seis conjuntos no total) apenas passaram por uma limpeza, já que estavam em bom estado de  conservação.


Foto: Paulo Vitale
 
Visão da plateia do Theatro Municipal de São Paulo: poltronas vermelhas remetem à década de 1950
Mais difícil foi restaurar o arenito, um tipo de pedra que reveste o exterior do edifício. "Trata-se de uma pedra muito frágil, e que retém umidade", diz Rafaela. "Muita gente se pergunta porque Ramos de Azevedo decidiu usar esse material. A única explicação é que ele é mais 'molinho', então pode ser esculpido com mais facilidade."

O arenito do Municipal foi todo retirado de uma mina em Sorocaba, no interior de São Paulo, que foi fechada nos anos 1970. Na reforma do final dos anos 1980, a mina foi reaberta para a retirada das derradeiras pedras para aquele restauro. Mas parte do material não foi usada, e ficou guardada em depósitos da prefeitura por vinte anos.

Essas pedras remanescentes eram tudo que a equipe chefiada por Rafaela tinha para usar na reforma iniciada em 2008. "Havia pouco material disponível, então nós não podíamos desperdiçar", lembra.





Detalhe do Salão Nobre: acesso restrito
Restaurante e Salão Nobre

O restaurante do Teatro Municipal, localizado à direita do hall de entrada, também voltará a funcionar. "A previsão é que ele seja reaberto em julho. Ele estará aberto ao público em geral para o almoço e, no jantar, apenas para frequentadores do teatro em dias de espetáculo", diz Lilian Jaha.

No espaço, há agora duas peças assinadas pelos irmãos Fernardo e Humberto Campana, dois dos mais importantes designers brasileiros: um enorme espelho que lembra a forma de uma colmeia e um sinuoso balcão com revestimento espelhado. A escultura "Diana, a Caçadora", de Victor Brecheret, continua em frente à entrada do salão.

O Salão Nobre, espaço mais suntuoso do Municipal, foi alvo de cuidados especiais. "O piso de madeira do local é muito frágil, então a visitação a essa área será limitada", explica Rafaela. "O público poderá entrar no salão e ficar nas duas extremidades, mas não poderá ir até o centro."

Foi a solução encontrada para permitir o acesso a um dos espaços mais bonitos do prédio sem danificar a área. "Nas extremidades haverá tapetes para proteger o piso e, de lá, o público poderá ver todo o espaço", justifica. Desse local, será feito o acesso às sacadas do Municipal, com vista para a Praça Ramos de Azevedo e o Vale do Anhangabaú.
O novo palco e as cadeiras vermelhas
Em matéria de dificuldade, nada nas obras do Municipal superou o novo palco do teatro. É o que afirma José Augusto Nepomuceno, consultor do projeto. "Foi um inferno na terra", resume, aos risos. O desafio, explica ele, foi colocar um palco de última geração dentro de um edifício centenário.
"Era um palco incompatível com uma cidade como São Paulo", afirma. Antes, as chamadas varas, que sustentam os cenários, funcionavam manualmente e tinham capacidade máxima de 150 quilos. Esse era o peso máximo permitido para os cenários de qualquer espetáculo encenado no local.

Agora, as varas são motorizadas e suportam 900 quilos cada uma. "Com duas delas, posso pendurar um carro de uma tonelada e meia no cenário", brinca Nepomuceno. "Além disso, elas estão mais rápidas. É possível trocar de um cenário para outro em apenas oito segundos."


Se no palco a modernidade é o que chama a atenção, na plateia a novidade mais visível é a cor das poltronas. Sai o verde, entra o vermelho. "As poltronas verdes foram introduzidas na reforma dos anos 1980. Na época, dizia-se que essa era a cor original, que teria sido substituída pelo vermelho nos anos 1950", conta Rafaela.

Mas, segundo ela, não há como ter certeza da cor dos assentos e encostos em 1911. "Não encontramos nenhum relato ou imagem da época", diz. Nos anos 1950, no entanto, é certo que as poltronas eram vermelhas. "Como a configuração da plateia é resultado de uma reforma dessa época, decidimos manter essa área como era então."

Entre 1952 e 1955, o Municipal passou por sua mais radical reforma. Foi nela que a plateia ganhou o seu formato atual, em forma de ferradura - antes, ela era redonda, acompanhando a forma do teto da sala - e teve demolidos uma série de camarotes para a instalação do órgão.

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