domingo, agosto 21, 2011

Jardins de Monet - Eles existem

Os jardins retratados nas obras do pintor Claude Monet são reais e, acredite, ficam no "quintal" da casa dele, em Giverny, França.


Apaixonado pela natureza, o pintor impressionista francês Claude Monet (1840-1926) iniciou o seu próprio jardim logo que se mudou de Paris para Giverny, em 1883. Ele alugou uma casa num grande terreno, de 8.100 m², em que poderia criar suas oito crianças, ficando perto de uma boa escola infantil e de Paris, onde eram negociadas as suas obras.

A pequena Giverny, um vilarejo bucólico, na época com 300 habitantes e a cerca de 70 km da capital francesa, impressionou e muito Monet. A natureza, as flores e a luz brincavam de revelar e esconder as cores e os aromas, fascinando o artista e criando o início de uma relação de cumplicidade, emoção e arte. Arte ao ar livre.
Com o sucesso de suas vendas, em 1890, Monet comprou o terreno e foi lentamente adquirindo algumas terras à volta de sua propriedade, criando um paraíso natural com a ajuda de uma equipe de dez jardineiros e três motoristas. O artista plantou inúmeras espécies de flores, plantas ornamentais e árvores frutíferas. Criou espontaneamente dois jardins – Jardim d'Água e Jardim da Normandia – e deixou que a natureza se encarregasse de ditar a beleza e a estética visual do lugar.

Fernando Grilli

Esta é a famosa ponte japonesa, retratada por Monet em 45 obras. Os barcos eram utilizados como apoio na manutenção e limpeza das águas. O artista sempre utilizou o lago como espelho e jogo de reflexões em suas criações e representações de cores, luzes e sombras.

Fernando Grilli
Claude Monet descansa em seu Jardim d'Água
No final de sua vida, o artista havia plantado mais de 1.800 espécies de flores e plantas, que conviviam em harmonia singular. Raros bambus japoneses, macieiras, azaleias, framboesas, íris, tulipas, rosas, limoeiros, rosas chinesas, miosótis, dálias, girassóis e hortênsias – para citar algumas – em suas cores variadas e cada qual com floração em data específica e planejada, faziam com que o jardim se mantivesse belo e colorido durante todos os dias do ano.

“Quando estava fora de casa, Monet sentia falta de sua companheira (Camille Doncieux), de suas crianças, de seus ateliês, de seus dois jardins e principalmente de suas flores. Ele tomava sempre um banho gelado matinal e um café reforçado na companhia de um de seus filhos, antes de começar o seu dia de trabalho. Em seguida, abria a porta da cozinha e saía para trabalhar em seus jardins, onde tudo respirava e tinha vida e onde o tempo parava”, diz Claire Joyes, esposa do bisneto de Claude Monet e escritora das principais biografias do artista.


Invadindo a casa de Monet com um festival de cores, logo na
entrada, vê-se o canteiro de miosótis. À frente, vasto canteiro
de tulipas nos tons pink e salmão. A trepadeira falsa-vinha
cobre as paredes dianteiras. Essa espécie produz flores
pequeninas na primavera e se torna bordô no outono. As
paredes de cor salmão, idêntica à das tulipas, acompanham a
sinfonia verde do local
Gilbert Vahé, chefe do jardim deMonet desde a sua restauração, em 1977, conta que o pintor “sempre se sentiu um paisagista e gostava de apresentar-se como tal”. Vahé explica melhor: “Ele aproveitava cada momento, cada diferença, cada contraste de luz, cores e florações para retratar perfeitamente os seus jardins em suas obras”.

Fernando GrilliSomente do Jardim d’Água, Monet pintou mais de 272 obras catalogadas, durante 20 anos de trabalho. A sua ponte japonesa foi retratada 45 vezes, com diversas luzes e cenários naturais. Amante das cores do mar e das águas, o artista dizia que cada momento correspondia a uma relação da natureza com a luz, com as sombras e com os reflexos das plantas nas águas. Naqueles jardins nunca houve espaço para monotonia.

"Mesmo sendo os jardins as principais áreas de sua moradia, Monet adorava a cozinha e a sala de jantar, onde recebia seus amigos, mantendo-os sempre por perto", explica Claire Joyes. Clemanceau, Mebeau, Cézane, Rodin, Truffaut e diversos outros nomes das artes e da política eram alguns dos frequentadores assíduos da residência, onde o artista preparava, em sua grande e moderna cozinha azul, pratos da culinária inglesa, que tanto amava. Após as refeições, faziam passeio pelos jardins, que davam aos visitantes a sensação de estarem penetrando dentro das obras de Monet e, mais ainda, dentro da intimidade do artista com a natureza. O pintor muito discutia com seu amigo Georges Truffaut, o famoso paisagista francês, a estrutura dos jardins. Apesar de sempre dizer que não tinha espécies de sua preferência, consideram-se os lírios-d’água, as íris e as herbácias as suas preferidas, por serem as mais vistas em suas obras.

Hoje em dia, o jardim-patrimônio deixado por Monet, preservado como na época do mestre, pode ser contemplado em Giverny, na França. Ele nos faz entender a relação do artista com as suas obras e pensar na emoção de nossa própria relação como verde, impondo-nos a necessidade de uma constante preservação da maior obra de arte doada à humanidade, a natureza.

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Acima, as ninfeias, ainda sem flor, espalham-se pelo lago. Ao fundo, a casa do pintor, cercada de um mundo de espécies catalogadas, mais de 1.800. As plantas enchem de cores e aromas o imenso jardim
Fernando Grilli
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Um dos caminhos externos junto ao lago, com uma árvore de magnólia-branca no início da floração da primavera europeia

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Na página à direita: esta é uma das principais paisagens do Jardim d'Água, do outro lado da estrada de ferro, no qual Monet aproveitava as mudanças de estação para retratar em suas telas os jogos de luz e sombra. Só nesse jardim foram pintadas 272 telas. O chorão tomba com tudo em seu verde-claro sobre o lago e as primeiras azaleias azuis surgem nos canteiros às bordas da água

Abaixo, a raiz do chorão fica à mostra junto ao lago, dando sustentação à planta. No chão, violetas multicoloridas formam um animado tapete
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Numa explosão de cores típica de uma pintura impressionista, hortênsias, sálvias, seringats e viburnos alegram o jardim às margens da água

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A tulipa-papagaio é uma das variações mais escuras da espécie, com flores em formato exótico que lembra ave tropical. Ela complementa com personalidade forte o leve Jardim da Normandia
As Alliaceaes são herbáceas pertencentes à família de plantas Aspargales, composta de 795 espécies e distribuídas em 20 gêneros. Da mesma família vêm o alho e a cebola
Planta de pleno sol, a tulipa é uma espécie bulbífera que gosta de clima frio. Com suas cores variadas, ajuda a criar o espetáculo primaveril no Jardim de Monet

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A íris era uma das flores prediletas de Monet, vista no Jardim da Normandia. Seu florescimento é mais forte sob climas frios, embora se dê na primavera e no verão. Atinge até 60 cm de altura
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A Fritillaria imperial, de origem oriental, não tem floração constante e é de difícil manutenção. Atinge até 1 m de altura

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Amor-perfeito ou violeta-borboleta, espécie que faz parte do grupo de flores medicinais. Monet a plantava no Jardim da Normandia, em diversas cores. Aprecia o frio e floresce na primavera e no inverno

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