terça-feira, janeiro 29, 2013

Estudo comprova que gesso pode ser reciclado inúmeras vezes


Em pesquisa realizada na Unicamp, material chegou ao quinto ciclo de reciclagem mantendo as mesmas propriedades físicas e mecânicas.




O gesso descartado nas obras de construção civil pode ser recuperado, mantendo as mesmas propriedades físicas e mecânicas de seu formato comercial. Essa é a conclusão de um estudo realizado na Universidade de Campinas (Unicamp) pela pesquisadora Sayonara Maria de Moraes Pinheiro, engenheira civil e professora da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf).


O processo consistiu na execução de duas fases para o retorno do gesso ao seu formato comercial: moagem e calcinação. Segundo a pesquisadora, a moagem pode ser considerada um processo de reciclagem por si só, pois o material processado pode ser utilizado como adição nas pastas de gesso de construção. 

Quando a etapa de moagem é associada à calcinação, segundo a pesquisadora, o resíduo volta a ser um aglomerante. "Assim, o resíduo de gesso retorna ao seu formato comercial", completa.



Cerca de 400 kg de resíduos de gesso foram submetidos a ciclos de reciclagem consecutivos em uma unidade de reciclagem experimental, criada apenas para a pesquisa. As propriedades físicas e mecânicas do gesso recuperado foram avaliadas em laboratório. Segundo o estudo, o material apresentou características químicas e microestruturais similares ao longo de todo o processo, mesmo após o quinto ciclo. 

De acordo com Sayonara, os ciclos provam que o gesso da construção civil pode ser sustentável. "Se não houver contaminação, o gesso pode ser 100% reciclado", diz. Segundo ela, para destinar o resíduo de gesso à reciclagem, seria necessário estabelecer um programa de gestão nos canteiros de obra com regras como, por exemplo, condicioná-lo em recipientes específicos. "Dessa forma, você contribui diretamente com a sustentabilidade do setor da construção civil como um todo, seria uma logística reversa", diz.


Utilizar o resíduo em diversos ciclos de reciclagem, além de reduzir a extração do minério gipsita, ainda contribui para a diminuição do descarte inadequado do material, bem como da contaminação do solo e lençol freático. "Por ser constituído de sulfato de cálcio di-hidratado, o resíduo de gesso pode se tornar tóxico em contato com o meio ambiente, já que a facilidade de solubilização do material promove a sulfurização do solo e a contaminação do lençol freático", explica a pesquisadora. "Portanto, não é recomendada sua deposição inadequada ou em aterros sanitários comuns, onde a dissolução dos componentes pode torná-lo inflamável", afirma.


Apesar de comprovada a viabilidade da reciclagem do gesso, ainda não foi desenvolvido um protótipo de usina de reciclagem para o material. A pesquisadora acredita, no entanto, que há possibilidade de tornar o processo rentável. Segundo ela, o volume de resíduos gerado pelo polo gesseiro de Araripe, no sertão pernambucano, por exemplo, representa massa significativa para proporcionar reciclagem em escala industrial. Sozinho, o polo é responsável pela extração de 95% da gipsita no país, sendo os principais consumidores os estados da região Sudeste. No total, o polo compreende 37 minas de exploração, aproximadamente 100 calcinadoras e 300 pequenas unidades produtoras de componentes, com processos artesanais.

A tese de doutorado da pesquisadora, defendida em 2011 junto ao programa de pós-graduação da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC) da Unicamp, corrobora a mudança da classificação do resíduo de gesso da Classe "C" para classe "B" pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), por meio da resolução nº 431 que destina o resíduo de gesso à reciclagem específica. "A redução da geração do resíduo, sua reutilização e reciclagem são as únicas possibilidades de minimizar o impacto ambiental causado pelo material", finaliza a pesquisadora.


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