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segunda-feira, outubro 10, 2011

O Cristo Redentor

Trabalhando em condições precárias, e a 710 metros de altura, operários levaram cinco anos para construir um monumento que tinha como pilar o concreto armado, conceito que era novidade naqueles tempos .


coleção aguinaldo silvaAndaimes, ferro, vergalhões: o Cristo foi erguido como se fosse um prédio, e só depois entrariam em cena os detalhes artísticos

Construir uma estátua com a representação da imagem de Jesus Cristo em um pico de platô pequeno, a 710 metros de altura do chão, sem estrada de rodagem alguma nem água por perto, era um desafio dos mais difíceis na década de 20. Além disso, sua forma criava outras dificuldades: muita gente achava que os braços, abertos e esticados, despencariam com os primeiros ventos — lá em cima eles batem com mais força que no solo urbano e não raro ultrapassam 100 quilômetros por hora.

O concurso para escolher o melhor projeto para o Cristo Redentor havia sido vencido, em 1921, por Heitor da Silva Costa, arquiteto e engenheiro carioca, morador do bairro do Flamengo. Ele passaria os anos seguintes arredondando os desenhos, mandando construir maquetes, fazendo e refazendo cálculos matemáticos e chefiando missões brasileiras a Paris, cidade à qual foram encomendados serviços artísticos do escultor franco-polonês Paul Landowski, autor da cabeça e das mãos da estátua. Somente em 1926, sob a batuta do encarregado das obras, Heitor Levy, a construção seria iniciada.





Esse monumento de 38 metros de altura, fincado no topo do Corcovado, justifica sua presença no rol dos grandes feitos da engenharia. "As duras condições de trabalho e os recursos parcos tornaram mais criativas as soluções técnicas adotadas", explica o engenheiro baiano Maurício Brayner, autor de um recente estudo sobre o tema, na Fundação Getulio Vargas. Ele destaca como foi acertada a escolha do concreto armado. O material era uma novidade no estilo art déco e baixou o preço final do empreendimento, que fora inicialmente idealizado em metal, como a Estátua da Liberdade, em Nova York. "Heitor da Silva Costa desistiu por considerar feio o efeito do cobre a longa distância e por temer que em uma guerra o monumento acabasse sendo destruído, com a finalidade de virar peças de artilharia", acrescenta.

arquivo o cruzeiro/em/d.a. pressMaquete de Landowski

Silva Costa foi meticuloso. A altura e a posição da estátua, por exemplo, foram definidas com base em observações particulares, ele próprio olhando para o Corcovado de vários locais, incluindo as cidades (na época longínquas) de São Gonçalo e Niterói. O ângulo de visão da Praia de Botafogo foi escolhido como ponto frontal porque dali o monumento aparecia com cerca de 10% da altura do maciço que lhe serve de pedestal natural, o que o engenheiro considerava adequado, numa boa proporção. Além disso, o Redentor seria visualizado de frente pelos visitantes que chegassem, por mar, à Baía de Guanabara.

Na obra, a dificuldade começaria já desde o papel. As plantas necessárias para alinhar o perfil externo do acabamento aos moldes internos do concreto foram feitas por uma equipe de dez desenhistas, "numa extensão de 16 quilômetros, se as respectivas folhas fossem alinhadas uma depois da outra", como descreveu o próprio Silva Costa à Revista do Clube de Engenharia. Também não era nada fácil o acesso de materiais e de operários ao canteiro. Cimento, areia, brita, vergalhões e milhares de pequeninos triângulos de esteatita (pedra-sabão) eram transportados de trem até perto daquela faixa de terra mais ou menos plana, de 15 metros de diâmetro, no mirante até então chamado de Chapéu do Sol, cume do Morro do Corcovado. Não havia líquido por perto, nem para beber, nem para fazer cimento. Bombeava-se a água de uma fonte num riacho distante 300 metros dali.


Desenhos com cálculos matemáticos

Para fazer uma base quadrada de 9 metros de lado, foi preciso que na rocha virgem — um gnaisse duro de roer — fosse aberto com dinamite um poço de 4 metros de profundidade. Os vergalhões foram chumbados a mão, e todo o concreto era preparado no local, erguido até as formas previstas nos desenhos por toscas gruas e aplicado manualmente pela equipe do mestre executor Levy — que se mudou de mala e cuia para o Corcovado e lá viveu por cinco anos, chegando a se converter ao catolicismo (era judeu). A obra foi realizada em lajes sucessivas e superpostas, doze ao todo, a cada 10 metros, com quatro pilares centrais, processo comum em prédios de hoje, mas uma novidade arriscada nos anos 20. Os pisos são menores perto do topo e os dois últimos pilares estão levemente inclinados para a frente, cerca de 5 graus, sustentando a cabeça de 3,75 metros de altura e 20 toneladas. Ela foi feita de concreto a partir de um molde de gesso que havia sido enviado, recortado em cinquenta partes, por Paul Landowski e remontado peça por peça num sítio, em São Gonçalo, de propriedade do engenheiro Levy.
  
coleção aguinaldo silvaCenário das obras no topo da montanha

As únicas vigas de aço da obra sustentam as mãos e estão presas no concreto da estrutura dos braços de 29,6 metros de comprimento, a qual não é perfeitamente simétrica — pelo projeto, o esquerdo é 60 centímetros menor, e sua estrutura interna, além de diferente, é mais angulada em direção à mão que no lado oposto. Mas esses são detalhes imperceptíveis a olhos nus e leigos. Na construção, usaram-se inicialmente andaimes de madeira, mas uma ventania afetou a estrutura, trocada então por trilhos de bonde. O Cristo foi realmente feito para suportar qualquer intempérie. A resistência do conjunto inteiro ao empuxo, no caso de ventos em turbilhão, é quase quatro vezes maior do que a que poderia ser normalmente adotada em construções do gênero, edifícios, no caso — especialistas em obras e engenharia costumam afirmar que o Cristo Redentor, por sua estrutura e pelo modo como foi erguido, nada mais é do que um prédio de dez andares.
  
Cabeça do Cristo no sítio de Levy

O acabamento com triângulos de pedra-sabão pré-cozida foi escolhido pelas propriedades da esteatita, que não racha, não se dilata e é impermeável. Resistente a ácidos, tem talco em sua composição, o que reduz o efeito do atrito com o vento. Um detalhe: foram equipes de mulheres católicas, e não operários, as responsáveis por colar em folhas, uma a uma, milhares de peças de pedra-sabão, que em seguida seriam aplicadas diretamente no cimento da estátua.

Ao fim e ao cabo, a cidade estava orgulhosa do feito. E seu principal realizador, Silva Costa, ficou todo bobo. "Fomos mais rápidos e mais eficientes que os construtores da Estátua da Liberdade", costumava comparar, em conversas com os amigos. Argumentava que o Brasil tinha parcos recursos tecnológicos, menos dinheiro que os americanos (todo ele fruto de doações) e que, mesmo assim, o Cristo foi erguido em cinco anos, menos da metade do tempo que levou a obra nova-iorquina. Tinha também notória satisfação por poder exibir um dado em particular: foram dezenas de arquitetos, outros tantos engenheiros, centenas de colaboradores, mais de 1 000 operários, e nenhum acidente grave registrado. Como por milagre, e as fotos mostram gente se equilibrando a 40 metros do solo, sem capacete, colete ou cinto, ninguém morreu na obra do Cristo.


acervo bel noronhaNa foto ao lado, repara-se que ainda não havia escadas que levassem à base do monumento

O acabamento com triângulos de pedra-sabão pré-cozida foi escolhido pelas propriedades da esteatita, que não racha, não se dilata e é impermeável. Resistente a ácidos, tem talco em sua composição, o que reduz o efeito do atrito com o vento. Um detalhe: foram equipes de mulheres católicas, e não operários, as responsáveis por colar em folhas, uma a uma, milhares de peças de pedra-sabão, que em seguida seriam aplicadas diretamente no cimento da estátua.

AUGUSTO MALTA/fmisO clima de festa no dia da inauguração


Ao fim e ao cabo, a cidade estava orgulhosa do feito. E seu principal realizador, Silva Costa, ficou todo bobo. "Fomos mais rápidos e mais eficientes que os construtores da Estátua da Liberdade", costumava comparar, em conversas com os amigos. Argumentava que o Brasil tinha parcos recursos tecnológicos, menos dinheiro que os americanos (todo ele fruto de doações) e que, mesmo assim, o Cristo foi erguido em cinco anos, menos da metade do tempo que levou a obra nova-iorquina. Tinha também notória satisfação por poder exibir um dado em particular: foram dezenas de arquitetos, outros tantos engenheiros, centenas de colaboradores, mais de 1 000 operários, e nenhum acidente grave registrado. Como por milagre, e as fotos mostram gente se equilibrando a 40 metros do solo, sem capacete, colete ou cinto, ninguém morreu na obra do Cristo.

sexta-feira, agosto 20, 2010

Em edifício histórico, vidro e metal criam espaço para as minas

Inaugurado na segunda quinzena de junho, o Museu das Minas e do Metal, em Belo Horizonte, ocupa um imóvel histórico na praça da Liberdade, habilitado para o novo programa por Paulo e Pedro Mendes da Rocha. Volumes envidraçados, que contêm elevador e escadas, e blocos em forma de U, com revestimento metálico em tom vermelho, foram as soluções que os arquitetos - pai e filho escolheram para resolver a circulação interna.


O convite veio pouco antes de Paulo Mendes da Rocha ser contemplado com o Pritzker, em 2006: sem ter nenhuma obra em Minas Gerais, ele foi chamado pelo governo do estado para desenvolver um dos projetos do Circuito Cultural Praça da Liberdade, programa idealizado para dar novo uso aos edifícios históricos que ficariam desocupados com a transferência da administração pública para a Cidade Administrativa Presidente Tancredo Neves.

A proposta previa que o imóvel construído em 1897 (projeto do pernambucano José de Magalhães), cujo último ocupante foi a Secretaria da Educação estadual, abrigasse o Centro de Indústria, Arte e Cidade (Ciac). A pretensão inicial não prosperou, mas foram mantidos a idéia de uso cultural e o convite ao arquiteto, que desenvolveu a adaptação do prédio para receber o Museu das Minas e do Metal, financiado pelo grupo EBX (do empresário Eike Batista), que atua na área de mineração. O grupo informa ter investido 25 milhões de reais no projeto.


As mais de 40 atrações do Museu das Minas e do Metal são, sobretudo, virtuais e interativas, tratando de temas que vão da importância dos metais na vida das pessoas à sua relevância para a economia do país. Os espaços expositivos espalham-se pelo três pavimentos aflorados da edificação (no embasamento ficam a biblioteca, a administração e a reserva técnica). No térreo, chamado de nível Liberdade, são apresentadas informações sobre a cidade de Belo Horizonte, a praça da Liberdade e a implantação do museu. No primeiro andar estrutura-se o Museu das Minas e no segundo estão distribuídos os equipamentos com as atrações do Museu do Metal (por exemplo, uma maquete interativa que exibe as operações de uma mina de ferro).

A intervenção no prédio de Belo Horizonte se aproxima do projeto do Museu da Língua Portuguesa (leia PROJETO DESIGN 315, maio de 2006), dos mesmos arquitetos, não só por apostar na interatividade e compartilhar também o autor do projeto museológico, Marcelo Dantas. Em ambos os casos, a principal exigência era acrescentar às edificações um sistema de circulação eficiente para receber um grande número de visitantes. Diferente do museu paulista, porém, no mineiro o acréscimo evidencia-se também na parte externa, estabelecendo um contra ponto com a construção original.
O projeto concentrou-se no corpo posterior. Acrescentado ao prédio original na década de 1960 e arquitetonicamente irrelevante, ele foi parcialmente removido e sobre a parte remanescente implantou-se o volume cego, composto de chapas metálicas de cinco milímetros. Também metálicas, fundações que independem da construção anterior sustentam a nova edificação, evidenciada pela cor vermelha dada pela pintura automotiva.


O pavimento novo, em forma de U, envolveu o vazio existente entre o edifício histórico e seu anexo. A conexão criou uma galeria que se junta aos salões expositivos do prédio antigo. Foram agregados ao bloco contemporâneo dois volumes de vidro laminado que equacionam a circulação de visitantes. 

O primeiro, que contém um elevador para passageiros e cargas, fica no extremo norte da edificação; o outro abriga a escada.

Se externamente o destaque da intervenção são os volumes novos, no interior chama a atenção o grande vazio central, o coração do espaço, que tem a altura de três andares. A cobertura envidraçada dessa área, segundo os autores, consolida uma intervenção executada nos anos 1980. Ela foi atualizada com o emprego de uma estrutura metálica de vigas-calha de seção Vede vidros transparentes.